domingo, 12 de setembro de 2010
REPORTAGEM DA SEMANA: o drama de famílias que ainda esperam pela água do carro-pipa, abaixo as fotos e depoimentos exclusivos de pessoas que sofrem
A dificuldade de acesso à água ainda causa sofrimento e lágrimas para muitas populações do Interior
"Porque é muito triste ter que passar sede, a gente aqui só conta com Deus", respondeu, por fim, dona Margarida Pinheiro de Sousa Freitas. E enquanto falava, chorava; daquele jeito que só os velhos choram, enchendo os olhos de lágrimas e apertando os lábios. De início tímida e um tanto arredia com a equipe de reportagem, a declaração da aposentada ganhou um tom confessional.
Há um dizer no sertão, reproduzido por Rachel de Queiroz em "Dôra, Doralina", de que atrás de cada olho existe um saco de lágrimas, e cada um durante a vida deveria dar vazão àquele tanto, e depois disso nunca mais chorar. Naquele momento, dona Margarida parecia surpresa com sua cota remanescente. Admitir a dor da sede rompia com o conformismo sertanejo e a ideia de que tudo acontece por uma ordem natural das coisas, pela "vontade de Deus". O choro ia caindo lento, quase à sua revelia, como se ela sentisse vergonha de tamanho desperdício. Ou mesmo de sua falta de fé.
Moradora de Catitu de Cima, a 12km da sede de Pacoti, o drama de dona Margarida é apenas um aspecto de um dos maiores problemas enfrentados pelas populações do semiárido: o acesso à água de qualidade. Em várias ocasiões testemunha-se o moderno e o arcaico convivendo na desarmonia das ações pontuais e mal planejadas, sem falar na falta de orientação para o manejo adequado dos recursos. Mostra que o "flagelo da seca" permanece menos por fatores ambientais do que por falta de vontade política.
Em Tauá, a comunidade de Pitombeira vive uma situação paradoxal: apesar da presença de cisternas de placa, as famílias dependem do abastecimento por caminhões pipa, tornando-as reservatórios de água. "Aqui não choveu quase nada, não ficou nem dois palmos de água na cisterna", revela o agricultor José Venerando de Souza.
Quando o caminhão segue seu rumo, ele aproveita a água da cisterna para dar de beber a um bode. Muitos desconhecem ou ignoram que a água da cisterna deve ser usada apenas para beber e cozinhar. Duas casas adiante, o irmão dele, Luiz Venerando, conta que depois da vinda do carro-pipa, ele e a família puderam passar algum tempo sem beber da cacimba cavada "no braço" pelo vizinho, que cede a água por amizade. Seguimos até onde está a cacimba, de onde seu Luiz tira uma água de aparência leitosa. "Mas é água boa, viu? Basta coar com o pano e botar na geladeira", ensina.
A aposentada Margarida Freitas chora diante da falta de água em Catitu de Cima (Pacoti). Os poços estão secando e não há açude
Em Tauá, cacimbão é cavado "no braço" pelos moradores da região. A areia retirada influencia na qualidade da água
Em Tauá, cacimbão é cavado "no braço" pelos moradores da região. A areia retirada influencia na qualidade da água
Luís Venerando Sobrinho mostra a água, de aparência leitosa. O recurso é consumido depois de coado em um pano
O agricultor carrega o jumento com a cangalha e os reservatórios e parte para o açude.
A água colhida no açude não é das melhores, já que o gado também a usa para matar a sede, mas servirá para o banho e os serviços domésticos.
Ao final do percurso, que durou cerca de meia hora, uma surpresa
Um caminhão pipa estava estacionado em frente à casa do seu Luís, abastecendo a cisterna.Com aquela água, que será utilizada só para beber, a família composta de sete pessoas espera poder chegar até a próxima chuva.
é assim a realidade enfrentada por muitos agricultores do sertão cearense..
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